No âmbito das celebrações do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, assinalado a 3 de dezembro, fui convidada pela Escola Dr. Manuel Gomes de Almeida, juntamente com o meu treinador André Tavares, para falar um pouco sobre o meu percurso enquanto atleta paralímpica. Foi um convite que aceitei com muito gosto porque foi a escola que frequentei entre 2006 e 2009.
Numa conversa próxima e informal as perguntas foram muitas e os temas foram vários... Desde como é realmente a vida de um atleta de alta competição, à urgência de se pensar que tipo de sociedade queremos ser quando pronunciamos a palavra "inclusão".
Permitam-me partilhar algumas ideias chave. O convite que me foi endereçado enquadrava-se numa sessão intitulada "Acreditei, acredito e inspiro". Sou atleta de Boccia há mais de 10 anos e o ponto alto da minha carreira até agora foi a participação nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. Um marco importante na vida de um atleta. No entanto, mais do que falar da experiência de Paris propriamente dita, gosto de pensar no meu caminho até aqui. E aí vem uma nota importante: só cheguei a este nível porque tive oportunidades.
Só consegui praticar desporto graças ao projeto "Desporto para Todos" da Câmara Municipal de Espinho em parceria com o Sporting Clube de Espinho. Só consegui porque tenho uma família que me apoia e que sempre procurou soluções para que eu atingisse os meus objetivos.
No entanto, a maioria das pessoas com deficiência não tem estas oportunidades. Continuam impedidas de circular na rua livremente, de utilizar os transportes públicos, de sair das suas próprias casas. Continuam a não conseguir entrar em edifícios públicos, a ter menos acesso à educação e ao emprego. E a lista continua, é longa.
É urgente que se olhe para as questões da deficiência à luz da filosofia de Vida Independente, que defende que as políticas para a deficiência devem ser desenhadas e pensadas numa lógica de Direitos Humanos e que deveremos ter as mesmas oportunidades que as demais pessoas.
Mas como construir esta sociedade mais inclusiva? É desafiante, mas está nas mãos de cada um de nós. É preciso assumir, com coragem, que viver com uma deficiência não é uma tragédia ou algo terrível. É algo que faz parte da vida como tantas outras coisas. É preciso pensar que as pessoas com deficiência e as suas famílias não precisam de pena e compaixão. Precisam de apoios, dignidade e direitos. Precisam de estar em todos os lugares e darem-se a conhecer.
É preciso deixar de olhar para algumas pessoas com deficiência, só porque atingiram determinados objetivos de vida, como autênticos heróis e exemplos de superação. Porque fazemos isto? Mais importante do que aplaudir heróis é tornar as nossas vidas menos difíceis: com mais acessos, com mais inclusão e respeito, com mais dignidade e com mais direitos, com um dia a dia que tenha menos preconceitos.
A escola é um espaço de excelência para se construir esta sociedade mais justa, mais inclusiva. Incutir às nossas crianças e jovens (e a toda a comunidade escolar!) que devem conviver com os seus colegas e amigos com deficiência, sem isso ser um gigante problema… Dar espaço para que perguntem tudo o que os inquieta e responder-lhes com seriedade.
Quanto às nossas crianças e jovens com deficiência, incutir-lhes que são parte da comunidade e que a sua voz é importante, que têm muito para dar, e que viver é precisamente estar em muitos contextos - todos aqueles que quiserem! - e perseguir os nossos sonhos com determinação. Viver é também lutar por aquilo em que acreditamos e não permitir que nos façam sentir menores.
Não será isto um ponto comum a todas as pessoas?
Incutir e ensinar para uma sociedade inclusiva é ganhar muitos pontos: é implementar a tolerância e o respeito. É implementar a solidariedade. É alertar para a importância da equidade e da diversidade. É resgatar autoestimas, capacidades e construir identidades positivas.
Esta é uma oportunidade maravilhosa para construir a sociedade que queremos – e merecemos – ser!
Escola Secundária DR. Manuel Gomes de Almeida, Espinho, Portugal
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